Apesar de parecer um rapaz muito complicado, sou até, depois de uma maior aproximação, um tipo que gosta de coisas simples. Adoro correr com o meu cão pelo pomar, viajar para paisagens deslumbrantes, deixar a minha pegada na terra húmida, inspirar o vento que percorre o alto da serra, espremer as minhas palavras no papel, deitar-me na relva a ler um livro, apanhar rãs na fonte do Melro, percorrer a pé os trilhos que a Natureza criou, rir até altas horas da noite, encostar os pés à lareira, abraçar alguém especial, etc etc etc.
Estes momentos, por agora, ainda se repetem. Já outros, ficaram com o tempo... Esmagar as uvas no lagar, malhar o milho, esconder-me na eira da minha avó, ir pedir coca-cola ao meu avô, cheirar o cozido à portuguesa acabado de fazer da minha avó...
Mas sou forte e não fico facilmente em nostalgias. Os meus momentos simples também são partilhados contigo, e espero que o sejam assim durante muito mais tempo.
Breves sombras… Passamos a 100… Há sempre uma sombra sobre este incessante clarão. Não é em vão que eu sigo por aqui… Uma fase parada… Esperava o impulso… Ladeado por altos resguardos e constantes sebes. Não faço o mínimo esforço e vou a correr… Muitas caras… Conheço e nunca as vi… Olham e desgostam fugindo do meu toque. Não sabem que lhes toquei permanentemente… O meu horizonte… Quase que o contemplo… Sei que fica longe e existe e não desespero. Não há quem me arranque a verdade…
Sai! Desaparece! Consomes-me por completo. Foste a visão fenomenal… Avisaram-me de ti “Cuidado com ela” Mas eu não obedeci. Agarras-me na mão Como leão a gazela, Róis a minha distância Desejas colocar-me de trela. A mim não me comes, A minha carne já é corrupta Desejas-me a pronto Mas eu desgosto minha… Não sou naco de croissant Para trincares e lançares além de. Tenho miolos (E dos bons), Julgares-me assim entristece-me. Canibalas-me só com os olhos Pelas minhas partes demais, Imagino se fosse com as mãos… São os teus pecados canibais.
Tirem-me esta mordaça Eu não vos servirei de nada calado. Meu Portugal tem o fado Portugal meu amado Houve a minha orgulhosa voz. És rude, és severo, E assim eu espero Que voltes a ser o especial, Meu querido Portugal. Para mim não existe Oporto nem Allgarve Existe alguém que sabe Que este povo grita bem alto em português. Já choveu ouro nas tuas terras Já percorreu gente feliz nas tuas serras Mas nunca tiveste tantas feras. O medo corre-te pelas vielas O medo espreita-te pelas janelas Senta-se até nos bordos do rio. Ergue-te e sacode todos os males presos às tuas calças Tosse todos os ignóbeis agarrados à tua garganta Limpa das unhas todos os sequiosos de poder. Mas, por favor meu Portugal, Abre os teus bolsos para que possam cair as sementes De um país imortal.
Vejo-me escondido a uma canto escuro, Vejo-me de cara feia, De uma pele suja e medonha. Reparo que tenho as unhas roídas e pretas E os cabelos imundos de suor impuro. Não paro de bufar, gemer, tremer, Agarrado de ambas mãos à cabeça. Tento-me levantar aos poucos… Caio incessantemente, Arranhando a parede aflito por um apoio. Tal como precisava deparei-me com algo cómodo Que me ajudou a pôr em pé. Presencio que estava sentado em cima de lixo, Lixo irreconhecível tal como o que me está a acontecer. Tento fugir o mais depressa que posso, Mas as pernas rastejam pelo chão, Como se houvesse algo que me puxasse para trás. Olho à minha volta e não vejo saída, O breu das paredes torna os meus pensamentos inúteis, A claridade dos meus olhos fazem-me crer que estou preso, O som que não se ouve deixa-me desperto, O sabor do ar é repugnante. Tenho a oportunidade de chorar, Tenho a oportunidade de gritar, Tenho a oportunidade de esquecer, Tenho a oportunidade… A oportunidade de acordar p’ra vida, A oportunidade do momento, A oportunidade do espontâneo, A oportunidade… De criar…
Às 11 e meia Parto eu para a Invicta Com uma mochila cheia de história Que produz na minha memória Vidas ingénuas e comprometedoras. Olho em redor e vejo sem pudor Uma mulher que faz pela vida Pensamentos estranhos De nojentos tamanhos Que me provocam dor.
Aperto maior, Jazem cá dentro Pulmões rebeldes e sequiosos Que pedem ofegadamente medicamentos manhosos. Mas neste momento não respiro por doença O que seria, se assim o podia, Ver os seios que o meu bisavô também viu Que agora estão bem lavados E os levam bem caros Por um momento boémio e de boa folia.
Não podem amar É a sua profissão Por uma melhor vida gritam Fazendo-nos acreditar que não fitam. O seu fim é o dinheiro, São transparentes e não invisíveis, Vêm de Bragança correm por Arada É bem pago e quer-se bem efectuado Mais caro por o tempo continuado Fazem tudo a todos os níveis.
São mulheres de uma vida perdida São mulheres de uma história enfurecida São mulheres de um útero de pecado e ofício De sítios de onde o homem retira o seu vício E se torna ele também pecador.