sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Já não sonho mais



Jamais sonhei seguir as tuas pegadas.

Nunca pensei ouvir-te a tentar assobiar.

Mas ouço agora as tuas palavras pesadas,

Que não são demais quando as fazes soar.












Nos recantos da minha ilusão,

Via-te dos cabelos à cintura.

Perdia-me por tamanha perdição,

Pelos mais belos recantos azuis,

Desbravando-me com a maior aventura.


Não te sentia, não te obedecia,

Não tinhas odor, não tinhas cor…

Perto de ti não subsistia a dor

Que sinto agora…


Eras tu a mulher dos meus sonhos,

A mulher que se foi lapidando aos poucos…



terça-feira, 28 de julho de 2009

Um tipo para milhares de coisas simples

Apesar de parecer um rapaz muito complicado, sou até, depois de uma maior aproximação, um tipo que gosta de coisas simples.
Adoro correr com o meu cão pelo pomar, viajar para paisagens deslumbrantes, deixar a minha pegada na terra húmida, inspirar o vento que percorre o alto da serra, espremer as minhas palavras no papel, deitar-me na relva a ler um livro, apanhar rãs na fonte do Melro, percorrer a pé os trilhos que a Natureza criou, rir até altas horas da noite, encostar os pés à lareira, abraçar alguém especial, etc etc etc.

Estes momentos, por agora, ainda se repetem. Já outros, ficaram com o tempo... Esmagar as uvas no lagar, malhar o milho, esconder-me na eira da minha avó, ir pedir coca-cola ao meu avô, cheirar o cozido à portuguesa acabado de fazer da minha avó...

Mas sou forte e não fico facilmente em nostalgias. Os meus momentos simples também são partilhados contigo, e espero que o sejam assim durante muito mais tempo.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Linha 2

Breves sombras…
Passamos a 100…
Há sempre uma sombra sobre este incessante clarão.
Não é em vão que eu sigo por aqui…
Uma fase parada…
Esperava o impulso…
Ladeado por altos resguardos e constantes sebes.
Não faço o mínimo esforço e vou a correr…
Muitas caras…
Conheço e nunca as vi…
Olham e desgostam fugindo do meu toque.
Não sabem que lhes toquei permanentemente…
O meu horizonte…
Quase que o contemplo…
Sei que fica longe e existe e não desespero.
Não há quem me arranque a verdade…

Fútil mudar de linha
É fútil se já vais a meio…

segunda-feira, 11 de maio de 2009

A camponesa ganzada

Escondida atrás do milheiral,

Está a volumosa filha do Pascoal,

Cobiçada pela rapaziada do montão

Pelas suas intensas curvas

E pelo seu caduco cheiro a cão.

Trabalha noite e dia

Na horta da folia

Onde mesmo o Zé Zarolho

A vai ajudar a arrancar o repolho.

Nunca deixou uma hora de trabalho pa trás

Sabe bem que o mais pequeno detalhe a satisfaz

Até ao dia que encontrou no bolso da gabardine do papá

Umas quantas mortalhas

E da ganza melhor que há.

Desde então não quer mais tomates nem pila,

Da horta ainda hoje se vê a grande fila

Negra pelos sinais de fumo que a miúda tosse.

Mas a malta já não a quer,

Ela agora sorri alcatroada…

E em coro dizem sem mais nada:

Dentes podres não são coisa de mulher

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Branco carvão em ti

Estás longe de chegar ao pé de mim

Longe é o meu sentimento que te desejaria

Sentir.

Vejo alegres flores de graciosa cor carmim

Esperando que seja igual ao meu sorriso que te faria

Sorrir.

Meu amigo, bem tinhas razão,

Como é difícil não amar aquela que nos causa menos problemas,

Aquela que igualmente nos transpareça o néctar de mil açucenas.

Reflicto no perdido amor que se fará revoltar no seu corpo inocente,

Quem me dera não amar para amar novamente,

Mas o amor que sinto é infinito certamente.

Abomino-me por olhar o seu corpo cheio de pecados,

Por ter o privilégio de entristecer-me por aqueles olhos cor de trigo

E por entrar no Céu divino ao escutar a sua voz nas preces que faz comigo.

Há aquela que me espera sem estafa,

Aquela que pela qual eu sinto algo tão grande que aos poucos me desfaça.

Pela qual combato sem cuidar das feridas

Pela qual gasto-me sem esperar alguma recompensa

Pela qual corro-me em saber o que pensa…

O quanto amo amar-te,

Mas o quanto é perigoso semelhar-te.

Sei que fomos escolhidos para nunca nos tocarmos

E sofrermos como um só…

Eis-me aqui consumido, apodrecido, amargurado e entristecido

No entanto, cheio de sentimentos lacerados por ti.

terça-feira, 28 de abril de 2009

Pecados Canibais

Sai!
Desaparece!
Consomes-me por completo.
Foste a visão fenomenal…
Avisaram-me de ti
“Cuidado com ela”
Mas eu não obedeci.
Agarras-me na mão
Como leão a gazela,
Róis a minha distância
Desejas colocar-me de trela.
A mim não me comes,
A minha carne já é corrupta
Desejas-me a pronto
Mas eu desgosto minha…
Não sou naco de croissant
Para trincares e lançares além de.
Tenho miolos
(E dos bons),
Julgares-me assim entristece-me.
Canibalas-me só com os olhos
Pelas minhas partes demais,
Imagino se fosse com as mãos…
São os teus pecados canibais.

segunda-feira, 30 de março de 2009

Cheguem-se p'ra lá

Tirem-me esta mordaça
Eu não vos servirei de nada calado.
Meu Portugal tem o fado
Portugal meu amado
Houve a minha orgulhosa voz.
És rude, és severo,
E assim eu espero
Que voltes a ser o especial,
Meu querido Portugal.
Para mim não existe
Oporto nem Allgarve
Existe alguém que sabe
Que este povo grita bem alto em português.
Já choveu ouro nas tuas terras
Já percorreu gente feliz nas tuas serras
Mas nunca tiveste tantas feras.
O medo corre-te pelas vielas
O medo espreita-te pelas janelas
Senta-se até nos bordos do rio.
Ergue-te e sacode todos os males presos às tuas calças
Tosse todos os ignóbeis agarrados à tua garganta
Limpa das unhas todos os sequiosos de poder.
Mas, por favor meu Portugal,
Abre os teus bolsos para que possam cair as sementes
De um país imortal.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Lágrimas de açúcar negro

Vejo tempestade

Num prado belo,

Vejo doces brisas

No meu próprio desespero.

Eu sou fraco,

Eu estou fraco

E chorei.

Que nem crocodilo,

Choro por mais do que não tenho.

Que nem mulher noiva,

Chorei lágrimas de alegria.

Que nem chita,

Deixei marcas

Do meu desgostoso lamento.

Sinto algo que me foge

E que eu persigo.

Sinto algo que me persegue

E do qual eu fujo.

Algo que os mortos também sentiram

E o deixaram em campo mal semeado.

Algo que os mortos não sentiram

E desconhecem a sua dor.

Algo que eu sinto

E não queria sentir.


Os cabelos ondulados

E negros como as noites em que te vejo,

A voz,

A voz que não me deixa em paz,

As tuas lágrimas,

Que se juntam às minhas

Ficam doces e limpam as nossas caras,

O teu preto

Que o comecei a ver azul

E a tua pura pele

Que põe a minha a suar…


Segredo-te a minha poesia,

Enquanto desperto,

Esperando que me escutes…

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Oportunidade

Vejo-me escondido a uma canto escuro,
Vejo-me de cara feia,
De uma pele suja e medonha.
Reparo que tenho as unhas roídas e pretas
E os cabelos imundos de suor impuro.
Não paro de bufar, gemer, tremer,
Agarrado de ambas mãos à cabeça.
Tento-me levantar aos poucos…
Caio incessantemente,
Arranhando a parede aflito por um apoio.
Tal como precisava deparei-me com algo cómodo
Que me ajudou a pôr em pé.
Presencio que estava sentado em cima de lixo,
Lixo irreconhecível tal como o que me está a acontecer.
Tento fugir o mais depressa que posso,
Mas as pernas rastejam pelo chão,
Como se houvesse algo que me puxasse para trás.
Olho à minha volta e não vejo saída,
O breu das paredes torna os meus pensamentos inúteis,
A claridade dos meus olhos fazem-me crer que estou preso,
O som que não se ouve deixa-me desperto,
O sabor do ar é repugnante.
Tenho a oportunidade de chorar,
Tenho a oportunidade de gritar,
Tenho a oportunidade de esquecer,
Tenho a oportunidade…
A oportunidade de acordar p’ra vida,
A oportunidade do momento,
A oportunidade do espontâneo,
A oportunidade…
De criar…

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

A menina dos teus olhos

Ouvi dizer que gostas dela,
Ouvi dizer que ela não te deixa dormir
Que ela te deu mais motivos para sorrir.

Ouvi dizer que já lhe segredaste,
Ouvi dizer que ela ocupa os teus olhos
Que lhe escreves bela poesia aos molhos.

Também já reparei,
Ela faz-te lembrar a companhia que faltava
Nas tardes de Agosto a admirar paisagens
Com vastas colinas e graciosas pastagens.

Também te compreendo,
Ela tem um certo charme caricato
Uma aparência doce como a sua voz
Um olhar de beleza atroz.

Imaginas-te a andar de baloiço,
A atirar pedras ao rio,
À lareira em tempo frio
De um tempo de nostalgia
Acompanhado
Pela ausência que lhe sentes.

Também eu já tive amores assim,
Amores não correspondidos, enfim.
Nunca mais lhes voltei a abrir a janela
Elas têm porta para entrar.

Dedicado a quem já o sabe.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

É bem pago e quer-se bem efectuado

Às 11 e meia
Parto eu para a Invicta
Com uma mochila cheia de história
Que produz na minha memória
Vidas ingénuas e comprometedoras.
Olho em redor e vejo sem pudor
Uma mulher que faz pela vida
Pensamentos estranhos
De nojentos tamanhos
Que me provocam dor.

Aperto maior,
Jazem cá dentro
Pulmões rebeldes e sequiosos
Que pedem ofegadamente medicamentos manhosos.
Mas neste momento não respiro por doença
O que seria, se assim o podia,
Ver os seios que o meu bisavô também viu
Que agora estão bem lavados
E os levam bem caros
Por um momento boémio e de boa folia.

Não podem amar
É a sua profissão
Por uma melhor vida gritam
Fazendo-nos acreditar que não fitam.
O seu fim é o dinheiro,
São transparentes e não invisíveis,
Vêm de Bragança correm por Arada
É bem pago e quer-se bem efectuado
Mais caro por o tempo continuado
Fazem tudo a todos os níveis.

São mulheres de uma vida perdida
São mulheres de uma história enfurecida
São mulheres de um útero de pecado e ofício
De sítios de onde o homem retira o seu vício
E se torna ele também pecador.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Impulsos Inconscientes

É preciso socorrer

Aqueles que por breves motivos

Não o deviam merecer

Que nas suas mentes ainda crescem

O que nas mentes dos outros a tempo amadurecem.


Por desejos incontroláveis

Criam-se momentos indesejáveis

Que jamais se tornarão a realizar

Se umas bebidas não se tomar.


De absinto a um copo cheio de tequilla

Todos bebem e ninguém refila

Se presente estiver o limão e o sal

Que torna um simples copo divinal.


Por um euro se toma

Um copinho que transforma

Uma alma sóbria e inocente

No reflexo de qualquer adolescente.


Por um copo que mata

Há alguém que remata

Que não há sequer guardanapos

Para acolher o bafo alcoólico dos mais fracos.


De mini diante mini

Não há bebida que define

O que alguém sempre sente

Quando se começa a sentir diferente.


Rápido passa a correr a noite,

E existe quem mereça um devido açoite

Pois quer por meios tristes abusar

Da saúde que tem e que Deus quis dar.


E por entre impulsos inconscientes

Rimo-nos de maneira diferente

E pretendemos olhar em volta

E ver uma cara amiga

Para tornar a nossa grande noite

Inesquecível e sem fadiga.