segunda-feira, 30 de março de 2009

Cheguem-se p'ra lá

Tirem-me esta mordaça
Eu não vos servirei de nada calado.
Meu Portugal tem o fado
Portugal meu amado
Houve a minha orgulhosa voz.
És rude, és severo,
E assim eu espero
Que voltes a ser o especial,
Meu querido Portugal.
Para mim não existe
Oporto nem Allgarve
Existe alguém que sabe
Que este povo grita bem alto em português.
Já choveu ouro nas tuas terras
Já percorreu gente feliz nas tuas serras
Mas nunca tiveste tantas feras.
O medo corre-te pelas vielas
O medo espreita-te pelas janelas
Senta-se até nos bordos do rio.
Ergue-te e sacode todos os males presos às tuas calças
Tosse todos os ignóbeis agarrados à tua garganta
Limpa das unhas todos os sequiosos de poder.
Mas, por favor meu Portugal,
Abre os teus bolsos para que possam cair as sementes
De um país imortal.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Lágrimas de açúcar negro

Vejo tempestade

Num prado belo,

Vejo doces brisas

No meu próprio desespero.

Eu sou fraco,

Eu estou fraco

E chorei.

Que nem crocodilo,

Choro por mais do que não tenho.

Que nem mulher noiva,

Chorei lágrimas de alegria.

Que nem chita,

Deixei marcas

Do meu desgostoso lamento.

Sinto algo que me foge

E que eu persigo.

Sinto algo que me persegue

E do qual eu fujo.

Algo que os mortos também sentiram

E o deixaram em campo mal semeado.

Algo que os mortos não sentiram

E desconhecem a sua dor.

Algo que eu sinto

E não queria sentir.


Os cabelos ondulados

E negros como as noites em que te vejo,

A voz,

A voz que não me deixa em paz,

As tuas lágrimas,

Que se juntam às minhas

Ficam doces e limpam as nossas caras,

O teu preto

Que o comecei a ver azul

E a tua pura pele

Que põe a minha a suar…


Segredo-te a minha poesia,

Enquanto desperto,

Esperando que me escutes…